sexta-feira, 27 de junho de 2008

Quatro dias trabalhando no Congresso Brasileiro de Prevenção das DST/Aids, aqui em Floripa, me proporcionou uma das coisas que mais gosto: conhecer gente. Na abertura um desafio: sair pelos corredores do Congresso, descobrir personagens e escrever sobre eles. O resultado ta aí.

Ilustres desconhecidos

A elegância chamou a atenção. Savana de longo vermelho e Renata de longo preto vieram a caráter para a abertura do VII Congresso de Prevenção às DST /Aids, na noite do dia 25 de junho. Transexuais, as duas vêm de Pelotas, Rio Grande do Sul, onde trabalham na noite. Savana, de 27 anos e quase 1,90m acredita que o preconceito ainda é uma grande barreira a ser enfrentada. Para Renata, no auge de seus 43 anos e quase 1,80m, a surpresa foi ouvir coisas novas. “Pelo menos aqui percebi que não se ouve sempre a mesma coisa”, diz Renata, que não revela sua identidade. Savana, que na verdade é Eder Guimarães, vai transmitir o que aprender aqui no evento para suas colegas de profissão em Pelotas. Ambas estão ansiosas pelo desfila da Grife Daspu, na noite de quinta, dia 26.
Em pé, perto da porta de entrada do salão de eventos, uma roda coesa de cinco jovens que não escondia o frio durante a cerimônia, aguardava a chegada das autoridades para a abertura do Congresso. Os jovens vindos de João Pessoa, na Paraíba, com média de idade de 20 anos, são atores que fazem parte da ONG Amazônia. Há onze anos, quando foi fundada, esta ONG era destinada a atender prostitutas e se chamava “Amar a zona”. A Amazônia hoje atua junto a associações comunitárias de João Pessoa com foco na prevenção das DST /Aids. Os jovens vão apresentar a peça “O boi da feira”, que vai tratar de assuntos ligados à prevenção de forma popular, na tarde do dia 26, às 13 horas. Aline, André, Karen, Cristiane e Anderson acham que o frio de Florianópolis é pior que o frio na barriga que sentiram ao andar de avião pela primeira vez para chegarem ao evento.
Um grande painel instalado no salão principal do Centrosul com o logo do Congresso é parada obrigatória dos congressistas para fotografias. Uma destas pessoas que se sentou no painel e fez pose foi Luiz Veiga, que por 28 anos foi usuário de droga e há vinte está “limpo”. "Com base na minha dor eu criei o centro de reabilitação de usuários de drogas Nova Vida", diz Luiz, de 64 anos, que veio de Belém, no Pará, em busca de conhecimento, especificamente sobre redução de danos. De barba branca e bengala, Luiz acumula doze processos judiciais do tempo que, segundo ele, vivia no mundo cão, onde roubou, matou, usou cocaína, maconha, álcool e medicamentos. O Centro Nova Vida tem atualmente 40 residentes que vêm de todo o estado do Pará.
Do Amazonas vieram para Florianópolis Antonio Ricardo, PHIV há doze anos, Lucas Arruda Neto, PHIV há dezenove anos e Julio Rodi, PHIV há oito anos e presidente da ONG Katirô, que numa língua indígena significa vida. Para Antônio, o VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST/Aids é como a reunião de uma grande família, onde existe a liberdade da troca de experiência. Lucas, cego e com uma máquina fotográfica na mão para mostrar para a família detalhes do Congresso, acha que as novas experiências é que contam num encontro como este. Julio, presidente da ONG, quer aproveitar o Congresso para reafirmar seu trabalho e orgulha-se do Brasil ser, apesar de um país em desenvolvimento, um modelo mundial no tratamento e prevenção das DST/Aids.